Imagine transformar o virtual em real para melhorar a vida das pessoas. Exemplos? Próteses que podem tornar sonhos de crianças em algo possível, como o de um garoto de 11 anos que nasceu sem três dedos e deseja ser goleiro.
Um engenheiro com trajetória construída em duas das principais universidades do Brasil e do mundo - e participações em programas da NASA - decidiu adotar essa possibilidade como propósito de vida.
E assim, ainda no início da década de 2010, quando o mundo ainda entendia o que a tecnologia 3D poderia fazer, nascia o embrião da 3D Lopes, empresa mineira especializada em impressão 3D, responsável até mesmo por desenvolver a própria impressora.
Confira abaixo a reportagem especial sobre a startup integrante da primeira edição do Conexões BH-TEC - e aqui para ler sobre as outras participantes.
O início
O fundador da startup e engenheiro com passagem em universidades referências é Daniel Lopes. Em 2009, ele começou o curso de engenharia no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), conhecido como uma das unidades de ensino superior mais difíceis do país.
Pouco depois, em 2011, integrou a primeira turma do programa Ciência Sem Fronteiras, do governo federal, e agarrou a possibilidade de ampliar ainda mais os horizontes. No dia 3 de janeiro de 2012, pousou em terras estadunidenses.
"Foi muito legal, fui o embaixador da minha universidade, o ITA. E foi ainda mais interessante porque o ITA é muito teórico. Quando cheguei aos Estados Unidos, na Iowa State University, entendi que a engenharia é muita prática", relembra Daniel Lopes.
E aí lembra daquele meme que ilustra a mente explodindo?
"Eu abri a minha cabeça para engenharia aplicada, o que eles chamam nos EUA de 'mãos na massa'. Uma das matérias da universidade era uma competição da NASA [a conhecida agência espacial estadunidense]: tínhamos que desenvolver um veículo autônomo", afirma.
Adivinhe qual foi o resultado da competição?
Imersão no universo 3D
Sim, Daniel Lopes e a equipe venceram a competição da NASA. E a famosa agência, frequentemente presente em filmes hollywoodianos, apareceria na vida do fundador da 3D Lopes novamente.
"Fiz estágio no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e, nesse estágio, tive a oportunidade de fazer as regras de uma competição da NASA: uma disputa entre carros anfíbios - andam na terra e na água. Eu estava sozinho desta vez, mas tive acesso a uma impressora 3D".
Lógico, o então estudante já dominava técnicas de modelagem 3D, desenhar as peças no computador, mas nunca tinha usado efetivamente uma impressora.
Resultado?
"Comecei a imprimir e fabriquei as peças do carro anfíbio. Ele foi testado, aprovado e se tornou o carro modelo da competição. Quando fui me despedir do professor que me orientou, em meados de 2012, ele deu uma carta de recomendação para eu continuar a graduação no MIT", conta Daniel.
Já estava evidente para o engenheiro em formação: impressão 3D era o presente e o futuro.
Aproveitou o MIT para fazer muitos projetos na área, sempre "mãos na massa", voltou ao ITA em julho de 2013 para finalizar a graduação com o TCC (Trabalho de conclusão de curso) sobre impressão 3D.
Já emendou o mestrado na sequência, quando, em parceria com a Braskem, desenvolveu o polietileno verde para impressão 3D.
"Polietileno é um polímero com diversas aplicações e o "verde" é porque é feito do bagaço da cana-de-açúcar, material super sustentável, com impacto ambiental excelente", explica o engenheiro.
Nasce a 3D Lopes
Após as jornadas no ITA, cuja sede é no interior de São Paulo, e no MIT, considerada uma das melhores universidades do mundo, Daniel Lopes voltou a Belo Horizonte para fundar a 3D Lopes, em 2014.
"Logo de cara, muitos desafios: em primeiro lugar, mostrar para as pessoas sobre a aplicação da tecnologia, uma tecnologia muito nova, ninguém sabia o que fazer com isso”, explica o engenheiro.
“Começamos a trabalhar em tudo: matéria-prima, máquina, desenvolvemos a nossa impressora 3D, a modelagem 3D… tivemos que entender todo esse universo”, complementa Daniel.
Você já imagina, não é?! Os desafios foram superados e, cerca de nove anos depois, a 3D Lopes já desenvolveu mais de 100 mil peças para mais de 100 indústrias diferentes.
Tecnologia para melhorar a vida
"O mais importante para nós é usar a tecnologia para mudar a vida das pessoas", resume o engenheiro.
E é exatamente isso que ele e a empresa dele alcançaram nessa quase uma década de existência.
"Ele me ajudou tanto com essa prótese: igual agora, estou aprendendo a usar o garfo e a faca para comer direito. No futebol, eu fico treinando com ela [a prótese] na minha casa. Meu sonho é ser goleiro de futebol", afirma Mateus, à época com 11 anos, em vídeo divulgado em 2017.
O adolescente foi uma das pessoas cuja vida se transformou para melhor com o trabalho de Daniel Lopes e da 3D Lopes.
"Sou muito grato com o que ele fez por mim", resume Matheus.
Conheça alguns dos projetos desenvolvidos pela 3D Lopes:
Roupas no Minas Trend (2017): Em 2017, uma colaboração com uma grife mineira deu origem a uma parceria com a 3D Lopes para produzir roupas utilizando impressoras 3D. O resultado dessa inovação foi apresentado na passarela da 20º edição do Minas Trend. Os croquis das estilistas foram recriados para a modelagem em 3D à procura das próprias estilistas que buscavam unir a moda à tecnologia (veja mais aqui)
Fabricação de Face Shield e vídeo-laringoscópio durante a pandemia de Covid-19 (2020): Não é só nas passarelas! A 3D Lopes, durante a pandemia de Covid-19, auxiliou no combate ao vírus fabricando face shield para distribuir entre médicos e enfermeiros que atuavam na linha de frente. Além disso, desenvolveu, através da modelagem 3D, peças para o procedimento médico que auxilia a intubação de pacientes de forma mais ágil - o que é essencial para que não haja sequelas pós-intubação
Produção de próteses: O desenvolvimento de próteses a partir da impressão 3D se tornou uma técnica bastante conhecida no mercado pelas vantagens: baixo custo de produção em relação a próteses tradicionais, leves e funcionais. Além do caso citado acima do Mateus, a 3D Lopes mudou a vida de uma criança de 3 anos com má formação no braço (confira a história aqui)
- esses são projetos que a 3D Lopes atendeu. (conheça a história dos pequenos Maria Luiza e Mateus).
Conexões BH-TEC
A 3D Lopes foi uma das participantes da primeira edição do programa de pós-aceleração do BH-TEC, o Conexões. Atualmente, com produção em larga escala e clientes espalhados pelo país, a startup tem como objetivo se estabelecer como referência em impressão e modelagem 3D no Brasil.
“Nesse sentido, o programa Conexões foi muito útil pelo diagnóstico que fez da 3D Lopes, mostrando quais áreas que a gente precisa de mais ajuda. Com o auxílio nas conexões com profissionais dedicados nessas áreas, conseguimos ter um diagnóstico assertivo, bem direto. Temos muito a agradecer ao programa Conexões e ao BH-TEC”, finaliza Daniel Lopes.
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