Uma plataforma que conecta todos os elos da cadeia de valor dos resíduos, alinhando tecnologia, ESG e desenvolvimento de mercado. Essa é a inovação sustentável criada pela Aterra, ideia que nasceu em 2015 e hoje figura entre as 100 melhores startups do Brasil, segundo o ranking Startup To Watch e 100 Open Startup.
A Aterra também é uma das participantes do Conexões BH-TEC, programa inédito de pós-aceleração do Parque Tecnológico focado em startups com alto nível de maturidade.
Confira abaixo a reportagem especial sobre a startup e aqui para ler sobre as outras participantes.
A ideia
A gestão dos resíduos industriais segue normas e leis rigorosas relacionadas ao manejo, armazenamento e destinação final - inclusive, em alguns casos, diretrizes para que estes resíduos possam ser inseridos como novos produtos em outras cadeias de valor.
Ao observar essa dinâmica e as oportunidades deste setor, Fernando Andrade decidiu facilitar as conexões entre os geradores e operadores e ampliar os benefícios associados. Como? Com a tecnologia. Isso há quase 10 anos, ainda em 2015.
“Eu sou formado em engenharia ambiental com MBA executivo em Desenvolvimento Sustentável e Economia Circular e atuei nos setores comercial e de sustentabilidade corporativa desenvolvendo projetos de grande complexidade socioambiental no Brasil, América Latina e África. Era bem desafiador e poucas empresas no Brasil realizavam algo similar”, explica o CEO e atual Head Comercial da Aterra, Fernando Andrade.
Entre 2008 e 2010, Fernando Andrade trabalhou com o também engenheiro Bruno Giovannini na construção de um marco em Minas Gerais: a Cidade Administrativa, suntuoso complexo elaborado por Oscar Niemeyer para abrigar toda a estrutura do governo mineiro.
“Em 2015, voltei para Belo Horizonte em uma decisão de mudar de vida. E, em um almoço com meu atual sócio, o Bruno, decidimos abrir um negócio de impacto socioambiental e econômico positivo a partir da movimentação de resíduos, conectando todos os elos da cadeia de valor de resíduos: quem gera, quem coleta, quem transporta, quem trata... e tudo isso de uma forma qualificada, ágil e sustentável”.
"Durante essa conversa, eu e o Fernando pensamos: 'tem tantas indústrias e empresas geradoras de resíduos no Brasil, por que não trabalhar de forma estratégica com os seus resíduos para levar ganhos a essas companhias", complementa Giovannini, o outro sócio fundador da Aterra.
A gestão dos resíduos industriais não era algo exatamente novo, mas unir tecnologia com ganhos econômicos e socioambientais a esse processo foi o que revolucionou os serviços que seriam apresentados pela Aterra.
Mas como unir a tecnologia à gestão?
A plataforma
“Nossa plataforma é B2B ("business to business", ou seja, desenvolvida para outras empresas) que apresenta uma visão 360 da gestão e destinação dos resíduos, favorecendo o aterro zero, a economia circular, a performance econômica, a governança e o atendimento aos indicadores de ESG", inicia a explicação o CEO.
"Como a gestão de resíduos é baseada em leis e normas, a gente qualifica as duas pontas: quem está gerando e quem está recebendo os resíduos”, complementa Andrade.
E, nesse ponto, entra a tecnologia.
“A Aterra consegue mapear regionalmente quem são os operadores de resíduos que possuem potencial para se conectar com os geradores e qualifica estas empresas atendendo requisitos legais obrigatórios e requisitos internos do cliente. Neste momento, a Aterra assume um papel bem interessante: de ser indutora de desenvolvimento socioeconômico ajudando essas empresas a se conectar com os geradores”, completa.
Em 2020, o cientista de dados Henrique Castro conheceu a Aterra - e logo se impressionou. "O mercado vê a gestão de resíduos apenas como uma obrigação. E a Aterra não: vê que essa atividade gera valor. Isso chamou minha atenção na hora", afirma o especialista, investidor-anjo de empresas e CEO da New Rizon, empresa de inovação com 20 anos de história.
E, assim, Fernando e Bruno ganharam um sócio, o Advisor de Tecnologia da Aterra (ou seja, um diretor de tecnologia - e conselheiro).
"Ampliamos a nossa plataforma, até então de marketplace, para também uma plataforma de governança de resíduos. Montamos, por exemplo, uma integração com o MTR Eletrônico de órgãos reguladores do governo para garantir que estes documentos estejam automatizados", explica Castro.
P&D de resíduos
Apesar das formas diversas de tratamento, reaproveitamento e reciclagem dos resíduos industriais já existentes, havia ainda uma forte demanda de mercado para resíduos mais complexos, tais quais: lodos de ETE, escórias, rejeitos, pó de despoeiramento entre outros materiais volumosos.
E aí entra outro pioneirismo da Aterra – desenvolver e implantar projetos de Pesquisa & Desenvolvimento para resíduos complexos.
“O que a Aterra fez foi começar a estudar as propriedades destes materiais e traçar novas rotas de aproveitamento. Então nós abrimos muito o leque: a Aterra estudava esses resíduos, principalmente as suas características físico-químicas, fazia alguns testes de bancada, e qualificava as potenciais rotas de aplicação, ainda em escala piloto", explica Fernando Andrade.
"A partir desses resultados, nós conseguimos desenvolver novos mercados com viabilidade técnica, econômica e sustentável: seja para transformar o resíduo em novo produto ou em novo processo”, complementa o CEO.
E aí começou uma nova etapa na história da Aterra: a Aterra Inovação.
“Começamos, então, a direcionar estas soluções para o mercado do agro e da recuperação energética. Essa vertente de P&D foi crescendo até a gente entender a necessidade de virar uma spin-off, como é hoje, com a Aterra Inovação”, conta.
Reciclar gera valor!
Oito anos consolidada no mercado, uma das iniciativas mais bem ranqueadas do Brasil, parcerias em todo o país. E agora? Quais os desafios da Aterra?
"Tivemos muito aprendizado nesses oito anos. Estamos maduros para dar o próximo passo, para ir no mercado fazer captação, buscar investidores para a gente virar a chave e aproveitar todo o conhecimento que temos para expandir. Temos muitas possibilidades se tratando de ESG, ODS, Descarbonização, Economia Circular...", projeta Bruno Giovannini.
Além de aumentar o número de clientes, a empresa entende que a conscientização do mercado permitirá uma nova frente: atender pequenas e médias empresas (geradores e operadores).
"Antes o nosso foco eram as grandes indústrias, com grandes volumes de resíduos. Parte das pequenas e médias não tinha tanto engajamento com a gestão de resíduos, do que estava sendo gerado e destinado. Hoje é diferente: conseguimos fazer entregas específicas para a demanda desse perfil de cliente", afirma o sócio fundador.
E na área de tecnologia?
"Aumentar a quantidade de automação com uso de dados para que a gente possa gerar indicadores mais interessantes para o gerador e operador. Hoje o nosso foco é o gerador de resíduo, mas estamos olhando para o operador", afirma o sócio e Advisor de Tecnologia, Henrique Castro.
E tem mais: "uso de inteligência artificial para gestão de resíduos, principalmente voltado para roteirização de todo o ciclo, entender os caminhos", complementa.
Conexões BH-TEC
"Tivemos a grata alegria de participar do programa do BH-TEC que, para a gente, faz muito sentido por ser um programa de pós aceleração, um programa de conexão de forma que a gente possa realmente nos estruturar e fortalecer para crescer", avalia Fernando Andrade.
"Estamos com uma expectativa muito positiva com o programa, acreditamos muito no Conexões", finaliza.
Linha do tempo
2015 - Ideação
2017 - Lançamento da primeira versão da Plataforma
2018 - Participação no programa Conecta
2019 - Ranqueados no 100 Open Startups + Destaque no programa Fiemg Lab + Crescimento da equipe e a criação de uma vertente de P&D para resíduos complexos
2020 - Ranquedos entre as 10 cleantechs no 100 Open Startups e no 100 Startup to Watch
2021 - A sociedade expandiu: chegada de Henrique de Castro, Advisor de Tecnologia
2022 - Quarta versão da plataforma e-Aterra, com foco na governança
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