Você sabe como funciona o mercado de produtos nanotecnológicos no Brasil? Como pesquisadores, laboratórios ou até mesmo empresas adquirem as nanopartículas para trabalhar em pesquisas e estudos?!
Pois bem. É um mercado bastante complexo, principalmente, porque é novo: há poucos anos, não existia um serviço ou uma plataforma brasileira para comercializar esses materiais.
E foi essa a inovação idealizada e desenvolvida pela Nanoview.
A pioneira na criação do primeiro e-commerce brasileiro de produtos nanotecnológicos é uma spin-off do Centro de Tecnologia em Nanomateriais e Grafeno da UFMG, o CTNano. A startup nasceu com um propósito bem definido: fazer com que os nanomateriais e as pesquisas que os utilizam, de fato, cheguem até a sociedade.
Se ainda não é muito claro pra você, a gente explica: o termo ‘spin-off’ representa uma criação derivada de algo. Ou seja, a Nanoview surgiu a partir das dos desenvolvimentos tecnológicos do CTNano, mas com objetivos diferentes.
O surgimento da ideia
“No dia a dia da pesquisa, quando precisávamos de algum nanomaterial que não produzíamos, era necessário importar. Fazíamos isso porque não existia e-commerce brasileiro que vendia diretamente nanomateriais para o pesquisador. Então, nós pensamos: certamente tem mais pesquisadores nesta mesma situação. E se vendêssemos os nanomateriais que produzimos no CTNano? A gente queria facilitar ao máximo o processo de aquisição para os pesquisadores”, conta Raíssa Guerra, diretora-executiva da Nanoview.
Segundo a engenheira de produção, em média, os nanomateriais demoravam cerca de 3 a 4 meses para chegar até o destino final no Brasil. Além das complicações de taxas de importação, já que não existia formas de comprar diretamente aqui, em território nacional.
“Com isso, a gente criou o primeiro e-commerce brasileiro focado em nanomaterias. Percebemos que seria uma inovação na forma aquisição destes materiais, por ser uma compra mais rápida. O pesquisador pode fazer tudo ele mesmo, através de uma interface como o site, que já dá acesso direto ao preço e a todas as informações técnicas e de segurança de cada material. Foi algo que a gente viu que facilitaria bastante o processo de compra”, conta Raissa, ao relembrar do lançamento em 2021.
Uma startup que atua em toda a cadeia
O Brasil já produzia e produz nanopartículas - ofício, inclusive, do CTNano, um dos centros que fazem parte do Parque Tecnológico de Belo Horizonte. Mas para finalidades comerciais ou entrega de um produto final, é necessário a criação de um elo com o mercado, como uma spin-off: neste caso, a Nanoview.
“As nanopartículas, como os nanotubos de carbono e grafenos, são o que vieram do CTNano. Há anos o Centro iniciou a produção e aumento de escala destas nanopartículas: o que a gente faz é sintetizar esses nanomateriais, processá-los para virar uma tinta, e a partir dessa tinta fabricar sensores diversos. E para viabilizar a solução completa para o consumidor final, começamos a desenvolver também a parte eletrônica do sistema, que faz a aquisição de dados dos sensores”, explica Thiago Cunha, doutor em física e diretor de tecnologia e produto da Nanoview.
Então, o que a Nanoview faz?
Ao todo, são dois vieses. O primeiro: a comercialização dos nanomateriais, normalmente utilizados por pesquisadores em seus estudos.
“Os nossos principais clientes são pesquisadores de universidades. Eles querem o insumo para colocar no processo deles”, explica Thiago Cunha.
“O que fazemos é produzir esse material e caracterizá-lo, ou seja, identificar para o pesquisador quais as propriedades que esses materiais têm, tudo minuciosamente detalhado. E, assim, o pesquisador decide como ele vai usar aquele material na sua pesquisa”, conta Thiago.
Já o segundo viés é a entrega de soluções nanotecnológicas prontas, como as que incorporam sensores com base em nanotecnologia.
Uma tecnologia do universo nanométrico
“Uma coisa que a gente sempre sentiu falta é que nós tínhamos os sensores, mas não tínhamos a solução completa, que inclui a interface para ler os sensores. E as interfaces que existiam, comerciais, eram muito caras. Então, o nosso produto nunca seria economicamente viável se a gente não internalizasse a produção dessas interfaces”, explica o diretor de tecnologia e produto.
Mas o que são essas soluções completas? Quer um exemplo?
MaturiTech: o lançamento da Nanoview
“Temos diversos tipos de sensores. O equipamento mais avançado hoje em dia é um sensor capaz de medir a temperatura do concreto enquanto ele está secando”, conta Thiago Cunha.
“A temperatura do concreto está relacionada com o quanto de calor ele libera quando ele está endurecendo. Quando a gente monitora a temperatura do concreto durante a secagem dele, a gente consegue estimar a resistência mecânica desse concreto em tempo real”, explica o físico.
“Com esse número, o engenheiro ou funcionário da obra consegue saber se ele já pode tirar a fôrma que segura o concreto e passar para o andar de cima da construção, por exemplo”, complementa.
Os sensores são customizáveis, ou seja, é possível alterá-los de acordo com o que precisa ser medido ou identificado.
“A gente também trabalha com sensores para medir força. Eles funcionam da seguinte forma: você coloca em alguma estrutura e, se a estrutura sofre algum tipo de esforço mecânico, a gente tem um sinal para mostrar que está acontecendo alguma coisa ali”, exemplifica Thiago.
“Todos têm a mesma base tecnológica, só que a gente customiza para variadas aplicações. Customizar depende de fazer diversas modificações no formato, no jeito de utilizar. Então, a gente tem uma base tecnológica que pode expandir para vários produtos finais”, explica o diretor de tecnologia e produtos da Nanoview.
Conexões BH-TEC
E agora? Quais são os próximos passos da Nanoview, os planos para o futuro?
“Temos vários projetos em execução. Um deles, será finalizado neste ano, com o lançamento do nosso primeiro produto desta segunda frente: o MaturiTech - e a ideia é dar tração para a empresa”, responde Raissa Guerra.
E o programa Conexões BH-TEC?
“O Conexões se mostrou um programa muito estratégico porque a gente está lançando o primeiro produto da linha de desenvolvimento tecnológico da Nanoview. Então, a rede de contatos do BH-TEC, os feedbacks que recebemos dos especialistas e a capacidade de articulação e capilaridade do BH-TEC foram aspectos muito benéficos para impulsionar esse desenvolvimento”, afirma a diretora-executiva da Nanoview.
“O BH-TEC abriu e está abrindo portas para que a gente possa robustecer tanto a nossa estrutura interna, quanto fazer parcerias para viabilizar o lançamento desse primeiro produto”, finaliza Raissa Guerra.
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